Treino de Alta Intensidade – Vantagens e potencial risco de lesão – Parte III

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Num estudo de 2019, que na nossa pesquisa encontrámos associado à relação entre o aumento da popularidade do HIIT e o consequente aumento da prevalência e incidência de lesões, os autores concluíram que indivíduos que praticam alguma forma de HIIT, estão expostos a um maior risco de lesão, principalmente nos ombros e nos joelhos.

Os investigadores analisaram o registo nacional de lesões americano (National Electronic Injury Surveillance System – NEISS) de 2007 a 2016, tendo encontrado mais de três milhões de registos que consideraram estar associados ao HIIT. A maior parte das lesões registadas, envolviam os joelhos, ombros e tornozelos, sendo que os indivíduos do género masculino entre os 20 e os 39 anos de idade, foram os mais afetados. Comparando o período entre 2007 e 2011 com o período entre 2012 e 2016, observaram um aumento significativo de lesões, que correlacionaram com o aumento da popularidade do HIIT. Analisaram esse aumento de popularidade através das tendências de pesquisa da Google (Google trends). Consideramos que as conclusões às quais os autores chegaram, não apresentam um bom nível de evidência. Ao apresentarem os registos do NEISS como prova suficiente para associar lesões ao HIIT, arriscaram quanto a nós uma grosseira generalização, ou seja, esses registos não incluem uma descrição do tipo e características do treino que o indivíduo estava a fazer, mas apenas uma breve descrição do que aconteceu e do equipamento envolvido.

A popularidade do treino de alta intensidade tem-se mantido elevada ao longo dos últimos anos, e o grande número de trabalhos científicos associados ao tema, acompanha essa tendência. Contudo, embora o efeito deste tipo de treino e a sua aplicação prática em diferentes contextos, que como vimos, não se restringem à atividade física recreativa e desportiva, mas se inserem também no contexto clínico, estejam bem estudados, os possíveis malefícios, em particular, a prevalência e incidência de lesões e a forma de os evitar, carecem quanto a nós de uma melhor representação. A maior parte dos estudos que aborda diretamente a questão das lesões, estão associados a um tipo de treino de alta intensidade em particular, o Crossfit, sendo que os outros tipos aparecem mais vezes representados de forma indireta no que diz respeito às lesões.

O nível de evidência dos estudos que analisaram diretamente a questão das lesões, não pode ser considerado o mais elevado, sendo que na maior parte dos casos, foram estudos retrospetivos baseados em questionários de autopreenchimento. Não queremos com isto dizer que essa opção não seja adequada ou que não esteja bem fundamentada na literatura, mas sim que seria vantajoso para a comunidade de profissionais que pode beneficiar da aplicação do treino de alta intensidade, poder contar com estudos com um nível de evidência mais elevado. Estudos do tipo aleatório controlado que explorassem esta temática, iriam com certeza trazer mais confiança aos profissionais bem como contribuir para a dissipação de mitos e de protocolos de intervenção desadequados.

Na análise que fizemos, ficou claro que neste tipo de treino, que pode trazer muitos benefícios, a melhor forma de evitar a lesão, é garantir uma preparação adequada e supervisionada, garantindo que as bases técnicas são compreendidas e corretamente implementadas e que os protocolos são respeitados. A considerável exigência técnica dos exercícios normalmente usados neste tipo de treino, associada à falta de supervisão e prática irregular, parecem ser os principais fatores de risco de lesão.

Referências:

Rynecki, N. D., Siracuse, B. L., Ippolito, J. A., & Beebe, K. S. (2019). Injuries sustained during high intensity interval training: are modern fitness trends contributing to increased injury rates? J Sports Med Phys Fitness, 59(7), 1206-1212. https://doi.org/10.23736/S0022-4707.19.09407-6

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