Treino de Alta Intensidade – Vantagens e potencial risco de lesão – Parte II

john-arano art HIIT

Estão referidos na literatura diferentes tipos de treino de alta intensidade, sendo que o mais prevalente é o HIIT (High Intensity Interval Training). Este tipo de treino caracteriza-se por blocos curtos de atividade física vigorosa intensa, rondando os 90% da potência aeróbica máxima, seguidos de curtos períodos de descanso ou atividade física de baixa intensidade, que visam possibilitar a recuperação.

Outra modalidade de treino de alta intensidade que encontramos referida na literatura é o HIFT (High Intensity Functional Training), que se define como um conjunto variado de movimentos funcionais, executados com alta intensidade (ajustada às capacidades do indivíduo) e com o propósito de melhorar capacidades físicas gerais, tais como a força, capacidade cardiorrespiratória, etc., sendo um exemplo representativo desta modalidade de treino o Crossfit.

Existem também algumas referências ao HIRT (High Intensity Resistance Training), contudo não encontrámos na literatura uma distinção clara entre este tipo de treino e o treino tradicional de força de baixo volume e alta intensidade, ou seja, mais focado na taxa de produção de força. Encontrámos, porém, um estudo com um elevado nível de evidência e com abrangentes implicações para a defesa da utilização do treino de alta intensidade, e que usou um protocolo de HIRIT (High Intensity Resistance and Impact Training). Iremos abordar este estudo num próximo artigo no nosso site.

Todas estas modalidades de treino, têm uma característica em comum, a sua elevada intensidade. Será que esta característica está associada a uma maior incidência e prevalência de lesões quando comparamos o treino de alta intensidade com outros tipos de treino?

Importa referir que nem todos os estudos definem da mesma forma, aquilo que constitui uma lesão, o que pode levar a que algumas lesões não sejam consideradas e que por isso não sejam associadas ao treino de alta intensidade. Por exemplo, se um determinado estudo considerar uma lesão, apenas como um sintoma músculo-esquelético agudo, que impeça o praticante de treinar por um período superior a 24 horas, estará a deixar de fora lesões crónicas que embora possam estar associadas ao tipo de treino estudado, não impeçam o praticante de treinar.

Considerando o facto de o Crossfit como modalidade de treino de alta intensidade, ter sido apontado por alguns autores como um dos potenciadores da popularidade do HIIT a partir de 2013 e uma das razões para se ter mantido a partir dessa data sempre nos primeiros cinco lugares da lista de tendências do fitness da ACSM, importa analisar o seu potencial para a lesão. Numa revisão sistemática da literatura de 2021, Rodríguez e colaboradores, identificaram uma prevalência de lesões de 35.3%, com um ratio de incidência entre 0.2 e 18.9 por cada 1000 horas de treino. Os ombros, a coluna e os joelhos, foram as áreas mais afetadas, sendo que uma média de 8.7% das lesões requereram cirurgia.

Os autores referem que o ratio de incidência foi semelhante ao encontrado no futebol e no rugby, e nas modalidades de weightlifting e powerlifting. Considerando estas duas últimas o resultado não nos surpreende, uma vez que o Crossfit faz uso de muitas das técnicas dessas modalidades. Dos 25 estudos que foram analisados nesta revisão de literatura (sendo que dois analisaram os mesmos dados), apenas seis referiram o tipo de lesão, indicando as tendinopatias, lesões nas articulações, e as lesões musculares como sendo as mais frequentes. Em todos os outros estudos não fica claro o que os autores consideram ser uma lesão. De referir que a maioria das lesões, estiveram associadas a movimentos de weghtlifting, sendo os principais: squat, deadlift, snatch, clean and jerk, e o overhead press.

O nível de evidência apresentado por esta revisão sistemática não foi o mais elevado uma vez que dos 25 estudos, 20 eram do tipo transversal e quatro do tipo coorte, não havendo nenhum estudo do tipo aleatório controlado (RCT). Consideramos importante referir que a maioria dos estudos analisados (20), recolheram informação através de questionários de auto-preenchimento não permitindo por isso um elevado nível de evidência. Os restantes estudos recolheram informação relacionada com as lesões, em hospitais ou clínicas desportivas.

Referências:

Rodríguez, M., García-Calleja, P., Terrados, N., Crespo, I., Del Valle, M., & Olmedillas, H. (2021). Injury in CrossFit®: A Systematic Review of Epidemiology and Risk Factors. Phys Sportsmed, 1-8. https://doi.org/10.1080/00913847.2020.1864675

…continua na parte III

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